Vestibulandos e dopping intelectual: uma relação de risco

Vestibulandos e dopping intelectual: uma relação de risco
Café, guaraná em pó e bebidas energéticas nem sempre são o suficiente para quem precisa enfrentar milhares de outros candidatos antes de entrar na faculdade dos sonhos e não quer ou não consegue encarar a pressão de cara limpa. Remédios criados com outros propósitos transformam-se em soluções para driblar o cansaço perto do vestibular, mas psicólogos e médicos fazem fortes recomendações contra o que vem sendo chamado de doping intelectual.

O estimulante mais popular entre os estudantes é o metilfenidato, vendido no Brasil sob as marcas Ritalina e Concerta. Embora este princípio ativo não faça parte do grupo das anfetaminas, o funcionamento no organismo é muito similar a elas e em algumas pessoas causa efeitos próximos aos da cocaína: hiperatividade, hiperventilação, perda do apetite, aceleração dos batimentos cardíacos, boca seca, dores no estômago. Em pouco tempo se adquire resistência à substância, obrigando os estudantes a aumentar a dose. A substância surgiu no fim dos anos 1940 e hoje é de uso controlado na maioria dos países. Ela costuma ser recomendada por médicos a crianças e adolescentes diagnosticados com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).

Outros remédios aparecem na lista dos vestibulandos, como o modafinil (por aqui vendido como Provigil), modafinila (com o nome de Stavigile) e o Adderall, um mix de anfetaminas indisponível nas farmácias nacionais. A rivastigmina e a donezepil, dois fármacos para Doença de Alzheimer com severas reações adversas também são usados para o mesmo fim e podem acabar prejudicando o desempenho cerebral de pessoas saudáveis.

Consumo triplicou entre 2009 e 2011

Atualmente, o Brasil é o segundo maior consumidor de metilfenidato, perdendo apenas para os Estados Unidos. Ele chegou às farmácias brasileiras em 1998 e foi rapidamente assimilado pelo mercado. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), apenas entre 2009 e 2011, o consumo no Brasil quase triplicou — passou de 156 milhões miligramas para 413 milhões. No mesmo período foram comercializadas 1,2 milhões de caixas do medicamento em farmácias e drogarias do país, representando uma alta de 28,2 % em relação a 2009.

O laboratório Novartis, que produz a Ritalina, não revela a quantidade do medicamento vendida no Brasil, mas previsões do Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos (Idum) estimam que elas tenham crescido perto de 3,2 mil % nos últimos 11 anos. Não há estudos sobre a quantidade de metilfenidato que gira pelo mercado negro no país.

Um preço alto pelo gás extra

Para alguns profissionais, existe uma tendência contemporânea que enxerga o consumo de remédios como uma bengala para todos os problemas da vida. O vestibular é uma época em que isso fica ainda mais evidente, pois o jovem é pressionado a concorrer com dezenas de outras pessoas numa prova que vai mudar os rumos de sua vida. Alguns pesquisadores argumentam que a sensação de atenção em quem toma o remédio é ilusória, já que não existem estudos conclusivos que relacionem o metilfenidato ao aumento na capacidade intelectual. A própria bula da Ritalina afirma que a ação do medicamento no corpo humano não foi completamente elucidada. Como não há estudos de longa data com o remédio, os efeitos conhecidos são aqueles instantâneos e diminuem com o uso contínuo.— Quem já está sob uma condição de estresse vai ter mais prejuízo que lucro ao ingerir um medicamento forte como o metilfenidato. Um jovem que toma remédios para passar a noite estudando fará seu organismo funcionar por mais tempo e com mais intensidade, causando um cansaço ainda maior no dia seguinte.

Compras são feitas com e sem receita

Um estudo publicado neste ano pela revista científica americana The Clinical Neuropsychologist constatou que 22% dos adultos com receitas para metilfenidato consultados exageraram a intensidade dos sintomas na hora de conversar com o psiquiatra. Já outros têm perfeita noção de que nunca foram portadores do transtorno de déficit de atenção e mentem para obter receitas de remédios variados.

Há também quem apele à ilegalidade para obter o metilfenidato. Numa busca rápida na internet, dezenas de sites que vendem Ritalina e Concerta sem receita são encontrados. A página do Facebook Ritalina-TDAH & TBH, um espaço onde usuários da rede social discutem os efeitos e os riscos do remédio, adverte quem tenta adquirir as pílulas pelo mercado negro online. Para eles, a chance de comprar um produto falso e superfaturado é altíssima. Quem anuncia remédio na página tem o tópico imediatamente excluído.


Fonte - Adaptado de Diário Catarinense
 
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