Especialista explica efeitos do uso do crack

Especialista explica efeitos do uso do crack

Ruy Palhano defende indução involuntária dos usuários e comenta deficiência no tratamento.

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Maurício Araya/Imirante

SÃO LUÍS – Nesta semana, a Superintendência de Polícia Civil da Capital (SPCC) iniciou uma operação nas ruas do bairro João Paulo, em São Luís, com o objetivo seria reduzir o avanço do consumo de crack e merla na região conhecida como "cracolândia". Segundo a Polícia Civil, aos dependentes químicos são disponibilizados tratamentos para eles se livrem do vício. Pelo menos 17 usuários das drogas foram conduzidos ao Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Capsad), no Monte Castelo.
O crack é uma droga feita a partir da mistura de pasta de cocaína com bicarbonato de sódio, uma forma impura de cocaína. A fumaça produzida pela queima da pedra de crack chega ao sistema nervoso central em 10 segundos. Seu efeito dura de três a 10 minutos e provoca intensa dependência. Já a merla é uma variação da pasta de coca, da qual se originam, também, a cocaína e o crack. 

Ambas as drogas são fumadas. Por serem baratas, crack e merla têm se disseminado com grande facilidade em grandes cidades do país.
De acordo com o médico psiquiatra Ruy Palhano, o uso de crack pode levar ao desencadeamento de doenças psiquiátricas em quem já, naturalmente, tem uma tendência a desenvolvê-las. "Hoje, nós temos três grandes situações, do ponto de vista médico e psicossocial, que devem ser considerados. Primeiro, a relação direta do uso de crack e a deflagração de doenças mentais. Quer dizer, a gente sabe, hoje, que existe um contingente exagerado de pessoas que são afetadas mentalmente porque são usuárias de crack. A segunda condição é que o uso sistemático de crack desencadeia situações psiquiátricas já existentes, isto é, se eu tenho uma tendência a uma esquizofrenia, depressão, transtornos bipolar ou de personalidade. A terceira grande condição é capacidade indiscutível do uso sistemático induzir ao vício, à dependência", disse em entrevista ao Imirante na manhã desta quinta-feira (29).

O especialista defende a indução involuntária dos usuários ao tratamento e afirma que a legislação brasileira já permite isso. "A capacidade de discernimento, a capacidade de decisão está afetada em função do uso da substância. Essa situação toda deve funcionar de corolário na determinação de políticas públicas para atender essa demanda", explica.
Ruy Palhano faz críticas ao Sistema Único de Saúde (SUS), que, apesar de seu caráter universal, segundo o especialista, não faz o atendimento de dependentes químicos. As famílias dos dependentes acabam tendo que optar por clínicas particulares. "Nós temos uma deficiência gravíssima em matéria de assistência psiquiátrica no Brasil. E aqui (no Maranhão), não foge à regra. O Brasil todo reclama, hoje, por um aperfeiçoamento da tecnologia oferecida para tratamento de dependentes químicos. Hoje, para você tratar o dependente de drogas, você é proibido pelo SUS. Você tem que falsear o diagnóstico, porque se você disser que vai internar um dependente de cocaína, crack, merla, OXI, eu não posso. O SUS e o Ministério da Saúde proíbem. Isso é um verdadeiro absurdo, vai contra a natureza do atendimento médico. A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), entidade da qual eu faço parte, há mais de cinco anos, vem lutando para que o Ministério da Saúde reformule essa sua prática política", afirma.

O médico critica, ainda, a duração do tratamento, de 15 dias. Com a deficiência no tratamento, os dependentes químicos acabam voltando a usar as drogas, o que acaba sendo pior para a saúde do usuário. "Toda recaída sempre será pior do que houve anteriormente. Se eu sou viciado em cigarro, e paro de fumar durante cinco anos, na recaída, vou fumar mais do que eu fumava há cinco anos. Isso é uma tônica clínica. No caso do crack, o mesmo. Daí porque, hoje, o mundo inteiro reclama a necessidade de se fazer uma prevenção de recaídas, que é uma das mais importantes estratégias universais no mundo inteiro, e aqui, no Brasil, nem se pensa, nem se fala", finaliza.

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